> Os Simuladores tomam conta do Estado

Eles são os mandatários políticos; são as autoridades do Estado Democrático de Direito, mas em realidade são somente delegados do poder social dominante. Reconheça “Os Simuladores”.
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As instituições sociais tem como fundamento a viabilização de uma coexistência civilizada, harmonizando os interesses individuais em prol desta necessária convivência. Ou seja: as instituições existem para nos servir como indivíduos insertos numa sociedade organizada.


O Estado é o ente supremo de organização social e numa flexão lógica, não se legitimaria se o bem comum não fosse seu fundamento. Num juízo de comparação, as existências do Estado, das instituições e das autoridades deles advindas, só se prestam se for melhor o que eles proporcionam (ou idealizam proporcionar), do que o “cada um por si”.

Num exemplo raso, uma vítima de roubo não persegue e castiga o ladrão porque está numa sociedade que constituiu o monopólio da persecução criminal para o Estado, fazendo parte de um acordo em que a polícia deve investigar e prender, o Ministério Público denunciar e a Justiça julgar o ladrão do carro. A chamada “vingança privada” – onde a vítima poderia perseguir e punir o ladrão - é ilegítima neste contexto.

Todavia as instituições são assim como as ideologias: perfeitas na teoria, no imaginário abstrato da filosofia, mas na prática sujeitas aos rudimentos da imperfeição humana. Filosoficamente são entes ideais, um padrão elevado que deve ser perseguido na vida real.

O pensamento majoritário é que o estado democrático de direito como "instituição" maior é a suprema maneira de organizar uma sociedade com justiça. Se pois a organização estatal não está servindo ao que se fundamenta, como ente virtual, metafísico e ideal não lhe cabe "culpa". Culpados são os seres humanos que deturpam um ideal.

Cientes das tendências pecaminosas da humanidade, os ideólogos do Estado criaram os mecanismos de autodepuração, o que se chama tecnicamente de “sistema de freios e contrapesos”, onde sempre há uma instituição responsável e legítima para dar correção aos rumos de uma parte doente do sistema estatal.

Mas, desde sempre, há algo errado no paraíso dos ideais e nada escapa dos ardis que a perversidade humana cria. Os indivíduos e grupos “mais fortes” não abrem mão de sua supremacia “natural”, seguindo uma lei instintiva: a prioridade dos fortes é manterem-se mais e mais fortes; e não será um sistema baseado na boa-fé (um pacto social) que vai fazer isso mudar.

Mas como, na prática, se corrompe uma fórmula racional elaborada para que todos se beneficiem ? Como manter o domínio numa sociedade que idealmente repudia a dominação ?

Se o sistema é democrático, será assim que os poderosos sociais chegarão ao poder político: usando a democracia em seu favor, deturpando as escolhas populares. Se o modo de se chegar aos cargos institucionais é o concurso público, valem todos os artifícios para pervertê-lo e assim legitimar a ocupação dos postos pelos escolhidos para fazer o papel de tentáculos.

Uma vez instalada a teia de influências nos postos chave, fica cada vez mais fácil ampliar e manter o domínio do Estado, num verdadeiro “pacto de lobos”, que enfraquece, e não raro, nulifica o sistema de freios e contrapesos.

Estes verdadeiros delegados do poder social dominante ocupam o Estado e o fazem servir a seus objetivos, fingindo ser a autoridade que, ideal e teoricamente, exerceria seu papel na instituição fazendo com que o sistema político-social funcionasse.

São os “simuladores”, os que se travestem de autoridade constituída, mas que na verdade são só prepostos dos que tramaram sua ascensão ao cargo institucional. Eles são um título, um cargo, uma toga, um colete, um uniforme e à uma vista superficial são legítimos e dignos, mas em verdade não são portadores das qualidades que os cargos exigem, nem tampouco o exercem com o "animus" legítimo. São como os sepulcros caiados. Seu conteúdo real é astúcia e segundas intenções, em busca das facilidades, dos salários, da influência e dos benefícios correlatos que os postos proporcionam.

Estas autoridades postiças estão no poder porque valeram-se de ardis, truques políticos, discursos vazios, ideologias de ocasião, assistencialismos a conta-gotas e conluios, usando as debilidades da democracia representativa como escada.

Agem de modo maquiavélico, com movimentos estudados para que tudo permaneça como está, exercendo seus cargos com uma agenda oculta de encargos ilegítimos, dentro de uma conveniente e burocrática mediocridade, que não realiza, só imobiliza e engessa; que não inova, só repete; que não se transforma para atender demandas, que não tem (e nem quer ter) coragem para mudar paradigmas, tornando o Estado numa farsa que se reduz ao limite da aparência de Estado.

O fingidor é o ápice da usurpação do poder legitimada pela fina e técnica falsidade ideológica. O fingidor sempre orbita em torno da chave do cofre do Estado.

Eles penetram na instituição-Estado e, tomando conta de seu cérebro, a transformam em um arremedo, um morto-vivo a seu serviço, como as vespas do gênero Glyptapanteles, cujas larvas parasitam lagartas de mariposa, de modo a transformá-las em zumbis que lhe garantem alimento e segurança.

Os simuladores estão no poder e, se depender deles, de lá não sairão nunca.

[Fabrício R. Luz]


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Link para aprofundamento :

A farsa da democracia brasileira - Stephen Kanitz

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