> Ainda AVATAR: neo-paganismo – nova era – e anti-cristianismo militante.

Antes tarde do que nunca. Sabendo que o assunto  já não é tão atual, mas que os efeitos da agenda oculta do filme são duradouros, entendo que ainda é pertinente refletir sobre “Avatar”, o visualmente fantástico filme eco-pagão de fantasia científica de James Cameron.
   Avatar é considerado um candidato a clássico do cinema, senão pela história, pelo menos pelos efeitos visuais inovadores. Comercialmente seu sucesso é um fato, pois nas semanas iniciais de exibição já havia batido todos os recordes de arrecadação (ajudou o fato de o ingresso ser mais caro que os filmes comuns em duas dimensões).

    “Avatar” usou recursos inéditos no cinema, dentre os quais está a técnica onde são inseridas expressões humanas em criaturas virtuais, captadas com o uso de milhares de sensores aplicados em atores reais, numa perfeita sintonia entre a arte e a tecnologia. O resultado é uma viagem para um mundo extraordinário em três dimensões. Nesta tempestade de cores e imagens, o recurso da impressão visual de profundidade foi apenas coadjuvante na fantástica visão do planeta distante imaginado por Cameron. Foram quatro anos de trabalho para materializar uma idéia que o diretor já tinha há 11 anos. Quanto aos efeitos de projeção, não há descrição que possa substituir a experiência de assistir ao filme em uma sala 3D. Então, paro por aqui.

   Já quanto ao enredo, é sim possível tergiversar sem estragar a diversão de ninguém. O gênero é ficção científica, somos transportados para o ano de 2154, num mundo onde nós, os terráqueos nos aventuramos no espaço e (surpresa), somos os invasores de uma lua de Saturno chamada Pandora. Neste distante mundo dedicamo-nos basicamente à fazer o que já fazemos na Terra: explorar recursos naturais à exaustão. No caso, o que atrai a corporação norte americana é um minério raro, escondido sob uma luxuriante floresta alienígena.

   Como seria uma natureza extraterrestre? Existiriam plantas fosforescentes, árvores gigantescas, cores esfuziantes e animais bizarros? Pois estão todos lá em Pandora, onde uma natureza hiper fértil explode nas mais variadas formas de vida animal e vegetal. Vendo e ouvindo essa exuberante floresta, nos sentimos como aqueles primeiros europeus que exploraram a natureza das Américas ou da África: extasiados. Mas, voltando ao enredo: é lógico que os humanos exploradores não estão preocupados com o meio ambiente extraterrestre. A corporação que explora os minérios é composta de milhares de trabalhadores, um exército particular de “seguranças”, uns burocratas de clichê e de poucas dezenas de cientistas - (os burocratas são tapados, os soldados são maus e os cientistas são bonzinhos). Os cientistas são encarregados de fazer o “link” entre a exploração e a população local, pois Pandora é habitada por seres humanóides inteligentes, chamados de povo Na’vi.

  Os ETs são indivíduos de pele azul, com uns três metros de altura, que apresentam o mesmo dimorfismo sexual dos humanos e que se organizam em tribos e clãs. São algo como que indígenas caçadores, que habitam em árvores gigantescas e tem um código moral baseado nas relações com a natureza. Estes seres me pareceram inspirados em algumas etnias de indígenas (da Terra mesmo, por óbvio), algo como uma combinação entre os massais africanos; cherokees e moicanos norte-americanos e os aborígenes australianos. No filme, a raça resiste como pode aos “homens do céu” (nós, terráqueos), usando flechas envenenadas contra as imensas máquinas de mineração.

   Para fugir da superficialidade de um vídeo-clip psicodélico seria preciso dar a aparência de “filosofia” (nada sério, afinal just a business), então o filme oferece o de sempre: aventura, heroísmo, vilania, idealismo, ambição, violência, dramas de consciência, relacionamento impossível em amor romântico, mediocridade, violência e clichês eco- paranóicos.

   Até aí, o enredo não difere muito dos tantos encontrados, por exemplo, em “games” eletrônicos ou em livros e filmes de ficção científica popular. Mas um aspirante a clássico precisa adentrar em temas mais, digamos, “profundos” e Cameron quis difundir sua peculiar visão da espiritualidade. Sim, espiritualidade, e aí começam os maiores equívocos de “Avatar”, (ou os maiores acertos, sob a ótica “cameroniana”).

   Antes tivesse o Sr. Cameron se restringido a contar uma história de ficção científica num cenário espetacular, tangenciando no nível mediano questões filosóficas (como o fazem sucessos de literatura infanto-juvenil como “O Senhor dos Anéis”, ou clássicos do gênero como “Guerra nas Estrelas). O filme não perderia em conteúdo e já teria garantido seu lugar na História do cinema comercial. Mas não, infelizmente Cameron deu o passo em direção ao transcendental onde até então só se falava em fantasia científica e crítica social disfarçada.

   Tratada como uma coadjuvante, a espiritualidade “avatariana” é de um simplismo cruel, dimensionada para agradar tanto os Arautos do Acaso (ateus), quanto os Místicos Sem Deus (espiritualistas, ocultistas, panteístas etc). A espiritualidade-materialista de Pandora não é como a de Stanley Kubrik, no clássico “2001 Uma Odisséia no Espaço”. Neste, o transcendental (ou a falta dele, sei lá), está sugerida nos silêncios e nas músicas e ainda referenciada numa estranha construção alienígena que acompanha os homens-macacos em sua “evolução” da bestialidade à era espacial.

   Na verdade, Avatar segue pelos caminhos ecumênico-eco-pagãos do Movimento Nova Era. O próprio termo “avatar” foi emprestado do hinduísmo e do misticismo pós-moderno pela linguagem da internet, onde passou a designar algo como uma personalidade paralela, uma figura que representa o operador real no universo virtual da rede de computadores. Assim o termo tem dupla conotação no filme, pois ao mesmo tempo em que o protagonista tem um, digamos, “corpo paralelo”, também podemos vê-lo se adequando à noção mística de “avatar” que é algo como um mestre espiritual designado a agir em determinada era.

   Até aqui são meras referências à ideologias místicas “da moda”, comuns quando se deseja dar um caráter mais metafísico a histórias comuns. Mas em dado momento, o místico se torna um dos personagens principais, interferindo no desenrolar da trama.

   Há em Pandora uma força superior que os cientistas terráqueos chamam de “rede biodinâmica” e que os nativos Na’vi materializam numa “árvore sagrada”, onde à sua volta se realizam rituais de canalização e comunicação com os antepassados mortos. Algo como “culto à mãe natureza” conduzido por um Xamã (feiticeiro). Os ETs gigantes se mostram ligados espiritualmente ao planeta em que vivem, sem maldade inata, como o “bom selvagem” de Rousseau.

   O planeta, aliás, é uma grande entidade espiritual (“Eya” a mãe do planeta) com personalidade própria, interferindo diretamente em suas sub-partes (animais, plantas e seres inteligentes). Esta é uma idéia condizente com a chamada Hipótese Gaia, um tipo de neo-panteísmo defendido por algumas correntes místicas, profetas da destruição ambiental e até por alguns cientistas e céticos, que prega resumidamente, que “deus é tudo e tudo é deus”, sendo o planeta um indivíduo vivo, e nós, só uma parte dele.

   Convenhamos que seria pouco razoável esperar que a espiritualidade embutida no filme tivesse matriz cristã. Afinal, cristianismo puro nunca foi um sucesso de público no cinema hollywoodiano (com raras e abençoadas exceções). Sempre os produtores dançaram em volta da fogueira da neutralidade e do senso comum/ecumênico.

   Para o cristianismo bíblico não há meio termo e a visão metafísica pregada mostra nítida matriz anti-cristã, pois quando se prega outra resposta que não Jesus Cristo à Grande Questão (quem somos, de onde viemos, para onde vamos após a morte ?), se está semeando o erro, o desvio e a mentira.

   Notícias dão conta que o Sr. Cameron é um entusiasta do Movimento Nova Era. Creio que as inserções condizentes com este movimento não estão no filme só porque correspondem a uma espécie de consenso pós-moderno: o homem faz parte da natureza e essa é a única coisa parecida com espiritualidade que pode ser aceita sem reservas. Creio que estamos, mais uma vez, diante de uma grande e pouco sutil doutrinação. Pandora não é cristã e lá há árvores sagradas, vozes dos antepassados e “vida emprestada”. A juventude está sendo apresentada à crença panteísta da Nova Era, onde não há Deus.

   Exatamente o inverso do que diz a crença cristã evangélica, para a qual a Criação tem o homem como ápice e, após a Queda, todos somos irremediavelmente alheios à perfeição e errados de origem, sendo que o único caminho para a Redenção é aquele proporcionado pelo próprio Criador, restaurando a perfeição do Amor pelo Senhor Jesus Cristo.

  Mas o Evangelho de Cristo, mesmo sem estar nas salas de cinema 3D, continua sua marcha triunfal através da História.

[F.R.Luz]
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Links de aprofundamento:

> O que é o Movimento Nova Era , em “vivos.com” : clique AQUI
> Avatar e a Nova Era em “Estudos Gospel” : clique AQUI
> Declaração Evangélica Sobre o Cuidado com a Criação: clique AQUI

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