"A ciência busca o conhecimento, mas os cientistas o reconhecimento." (Antoine Lavoisier)
O neo- ateísmo é bastante econômico em seus argumentos. O mais comum e onipresente é a invocação da primazia da "razão" e em especial da “razão científica”. Essa é a fórmula fantástica que faz com que eles, que estão presentes tanto no meio científico/acadêmico quanto nas comunidades para-científicas - , avoquem para si a primazia do raciocínio e do pensamento culto, impingindo aos deístas a pecha de incultos e/ou ingênuos (repetindo Freud e Marx). Tentam eles levantar uma barreira separando a fé cristã e a ciência, usando estes dois pilares: razão e obscurantismo. A primeira seria deles e o segundo seria dos crentes.
A revista Veja de 14/07/2010 trouxe uma entrevista com o biólogo Craig Venter onde este respondeu perguntas sobre seu mais recente feito midiático/científico: o transplante do código genético de uma bactéria para um ser unicelular. Inicialmente o enfoque dado a este experimento pelos meios de comunicação era algo ufanista: o homem teria imitado Deus e “criado” vida em laboratório. Na Internet foi grande o furor dos neo-ateus virtuais, felizes com “mais um” “argumento” para desqualificar a Criação como obra divina. Olhos brilharam como a dizer com um misto de alegria e (principalmente) alívio: “Vejam só! Cadê o seu Deus agora? Não há Deus; não há Deus !”
Não seria impreciso chamar os adeptos do ateísmo militantes de algo como "apologistas do acaso químico", pois suas estáticas convicções se baseiam no poder criador do acaso, somado à eventos que desafiam as probabilidades. Fechados em suas convicções, eles não admitem outra hipótese para a existência da humanidade.
Voltando à "descoberta", um exame um pouco menos superficial no noticiário jogou água fria nos mais afoitos: ninguém criou vida da matéria inanimada. Foi só um transplante de DNA entre micróbios de baixíssima complexidade genética. Algo que tem lá seu valor científico, mas ainda é pouco para “demonstrar” a origem da vida e seus insondáveis mecanismos.
E quem é o o vaidoso Sr. Venter, o homem que trata seu nome como uma “marca” a ser explorada, talvez como reflexo de sua assumida dupla vocação de empresário e cientista. No desempenho destes papéis, ele capitaneia um Instituto de Pesquisas (cientista) com fins lucrativos (empresário), cujo nome, por óbvio é J. Craig Venter Institute. São notáveis seus esforços para manter-se na mídia para ganhar notoriedade e patrocinadores; seja anunciando seus experimentos com alarde holliwoodiano, seja lançando-se ao mar numa “aventura científica” para coletar amostras de DNA (ele inclusive tentou patentear um ser vivo descoberto nesta viagem). O homem é, como se diz, “polêmico” e gosta da fama. Certa vez, de maneira pouco modesta, ele disse que já estava na hora de “reescrever” o código genético humano.
Pois bem, a entrevista deste senhor trouxe à tona as vicissitudes do falso conflito entre a verdadeira ciência e a fé cristã. “Incompatibilidade” esta revivida a cada descoberta de um dedo a mais num animal fossilizado ou de uma inscrição num túmulo antigo. Documentários “explosivos”, livros “revolucionários” são lançados e vendidos como água no meio para-científico.
Aliás, do segmento, científico-popularesco não se espera muito além da repetição - algo simplificada - do discurso dos cientistas verdadeiros. Não se pode levar muito a sério mídias de variedades como a própria revista Veja, ou de ciência popular como Galileu, Superinteressante, NatGeo, Discovery, History Channel e similares, bem como os inúmeros blogs e sites que pregam a ciência como sustentáculo do ceticismo.
Intolerantes e obscuros ?
Mas então o que os cientistas ateístas, oferecem como argumentos para sustentar a ideia fixa no (para eles) antagonismo intransponível entre ciência e fé? Sem nenhuma originalidade, repetindo métodos notórios de “como vencer um debate, mesmo sem ter razão”, eles chamam a “deusa razão” para seu lado e desqualificam os de opinião contrária (argumento ad hominem) . Vejamos pois a resposta muito elucidativa e involuntariamente sintética do Sr. Venter a uma questão específica:
VEJA: O geneticista Francis Collins, também responsável pelo mapeamento do genoma humano,é cristão fervoroso. É possível conciliar religião e ciência?
Venter: Não. É muito difícil ser um cientista de verdade e acreditar em Deus. Se um pesquisador supõe que algo ocorreu por intervenção divina, ele deixa de fazer a pergunta certa. Sem perguntas certas, sem questionamentos, não há ciência. (...)
Notemos então o brilhantismo avesso da resposta: ao mesmo tempo em que desqualifica um colega cientista tão reconhecido quanto ele (mas talvez com um ego e uma assessoria de imagem muito menores), negando que um “cientista de verdade” possa crer em Deus, o Sr. Venter vincula a crença no Criador como um limitador da curiosidade científica, como se ao crente em Deus não interessasse desvendar os meandros da natureza em prol da busca de progresso.
Ora Sr. Venter , é por isso que um “cientista verdadeiro” não pode ser crente ? Quem ou o que lhe ensinou que o estudo dos mecanismos da criação são proibidos aos filhos de Deus? O que é a ciência senão a busca da ordem racional da Criação numa contemplação esclarecida do Criador por meio da natureza? Esqueceu de expoentes históricos da ciência como Newton, Pascal e Mendel, que eram cristãos?
O biólogo Venter convenientemente parou seu raciocínio na Idade Média, quando a Igreja via a ciência como uma ameaça ao seu poderio espiritual e combatia qualquer experimento que visasse investigar os mecanismos da natureza, achando que as pessoas - uma vez cientes das estruturas da criação - tirariam Deus de suas vidas. Vale lembrar que até bem pouco tempo, a fé era a única fonte de certezas, pois não havia o domínio do conhecimento advindo do experimentalismo.
O engano dessa visão capenga do papel da Igreja e do cristianismo já foi relegado às páginas negras da História. Deus não precisa de “defensores” humanos e muito menos que eles se fundamentem no medo do conhecimento. Antes, como hoje, a ciência está ligada intimamente à Filosofia e à Teologia na busca da verdade. O cristianismo de hoje não teme a ciência verdadeira.
A busca do conhecimento e a própria ciência como a conhecemos hoje, é fruto da civilização ocidental europeia, fundamentada que foi nos princípios cristãos.
Nunca um “cientista de verdade” instalaria um “firewall” em seu software investigativo, programado para barrar a pesquisa quando ela se encaminhasse para uma conclusão contrária à suas crenças. Nunca um cientista cristão incorreria nesta limitação pelo simples motivo de que nenhuma descoberta científica passada, presente ou futura se contraporá à fé cristã num Deus Criador. Nenhuma.
O mesmo não se pode dizer dos cientistas Apologistas do Acaso Químico, limitados que são pela crença radical na inexistência de Deus. Sim, eles são radicais ao extremo e não admitem nada que possa ameaçar seus dogmas materialistas. Há casos de cientistas que foram banidos de universidades porque defendiam o criacionismo e o “design inteligente”; e muitos mais casos de segregação, numa verdadeira “Nomenklatura Científica”. Quem é “cientista de verdade”?
A ciência como busca da verdade pela experimentação não conflita com a fé em Deus Criador. Toda verdade é verdade de Deus, como dizia Agostinho.
Quem é obscuro, fundamentalista e inquisidor?
O obscurantismo não é nosso. Mas a razão, é deles?
A teoria que traz o evolucionismo darwiniano como cientificamente capaz de explicar a origem das espécies e rechaçar a criação divina tem muitas lacunas. É uma teoria, não é uma verdade científica. Mas mesmo que a teoria evolucionista “fechasse”, ela não afastaria o que os cientistas tanto temem: a existência de um Criador, pois mesmo que se comprovasse todo o caminho evolutivo e se chegasse ao “ponto fundamental da vida”, esse ente misterioso que teria “evoluído” da matéria bruta para uma célula e daí passou pelo zoológico inteiro até chegar ao homem, nem assim a pergunta fundamental seria respondida: como surgiu a matéria bruta e como esta virou vida; e vida complexa ? O nada gerou tudo? Mas isso é “científico”? Não, não é.
Alguns conhecidos Apologistas do Acaso Químico já se debruçaram sobre esta questão máxima, cientes de que dela depende todo o “resto”. Einstein reconhecia que o Universo não poderia ter vindo do nada, e remetia sua causa e seu desenvolvimento a uma “força” que, destacava ele, não se confundia com “um Deus pessoal”; Stephen Hawking também esboçou sua simpatia à complementaridade entre ciência e religião para que se alcançasse a Verdade, mas negou o conceito cristão de Deus, e hoje se preocupa com a possibilidade de ETs invadirem a Terra ;Carl Segan (
um homem de fé), não cogitava largar seu ateísmo, esboçando no máximo o reconhecimento de um “deus” composto pelas leis naturais.
Mas outros “cientistas de verdade” fazem ciência “de verdade” e são cristãos. Eles reconhecem que a ciência tem como fundamento a criação e vêem nesta trilha a assinatura de um Criador.
William Thompson Kelvin (1824-1907), físico, pai da termodinâmica disse.
“Estamos cercados de assombrosos testemunhos de inteligência e benévolo planejamento; eles nos mostram através de toda a natureza a obra de uma vontade livre e ensinam-nos que todos os seres vivos são dependentes de um eterno Criador e Senhor”.
O físico Paul Davies escreveu “A Mente de Deus”, onde traça um panorama científico-filosófico para concluir que tudo no cosmo revela intenção e consciência. Disse Davies: "Acredito que as leis da natureza são engenhosas e criativas, facilitando o desenvolvimento da riqueza e da diversidade na natureza. A vida é apenas um aspecto disso. A consciência é outro. Um ateu pode aceitar essas leis como um fato bruto, mas para mim elas sugerem algo mais profundo e intencional."
John Polkinghorne, colega de Hawking no departamento de Física de Cambridge, que - depois de 25 anos de carreira acadêmica brilhante - largou tudo para se ordenar pastor anglicano e escrever livros, disse à Revista Superinteressante em 2001:
"Eu não abandonei a física porque estava desiludido com ela, muito pelo contrário: continuo acompanhando o assunto com o máximo interesse. Só não faço mais pesquisa científica. Mas boa parte dos meus livros consiste em ensinar física quântica aos leigos."Acredito que precisamos de ambas as perspectivas, a científica e a religiosa, para compreender esse mundo admirável em que vivemos."
Em nome de uma suposta devoção à “deusa razão” e empenhados em fugir de tudo o que lhes pareça “sobrenatural”, eles, os dogmáticos ateus acabam incorrendo justamente no que condenam, aceitando uma possibilidade antinatural como premissa válida. Ou pelo menos reconhecem tacitamente que a experimentação não pode chegar à realidade plena. É assim com a geração espontânea da vida.
A ciência já disse que ratos nasciam espontaneamente se roupas sujas fossem deixadas num canto de um porão por algumas semanas... A experimentação mostrou que não era bem assim. Hoje eles dizem que a vida surgiu espontaneamente de uma sopa química inicial...
Aliás, parece que alguns dos Apologistas do Acaso Químico já se deram conta da impossibilidade científica de se repetir em laboratório o processo (para eles real) de surgimento de vida à partir de compostos inorgânicos.
O Sr. Venter, nesta entrevista à Revista Veja, foi questionado sobre isso e, de modo previsível, respondeu desqualificando a importância de se recriar, a tal “sopa primordial”, dizendo que “isso não vai fazer de mim um cientista melhor ou pior” (tradução: - “Eu nem queria fazer isso mesmo”), e que “para isso teríamos de voltar 3,5 bilhões de anos” (tradução: - “Nunca conseguiremos fazer isso, vai ter que ficar na imaginação”; disse ainda: ”Construir vida do zero é uma noção arcaica na ciência” (tradução: - “As uvas estavam verdes mesmo”).
O Sr. Venter avilta o ponto fundamental de sua crença (ou de sua descrença), lhe tirando a importância e, num segundo momento, remete sua demonstração ao nível do impossível. O cientificismo ateu representado pelo Sr. Venter diz “ a base de nossa repulsa ao sobrenatural é algo que cremos, mas que não podemos demonstrar experimentalmente, que foge aos limites da ciência, que extrapola as leis naturais conhecidas, mas que supomos ser verdadeiro”. Quer maior declaração dogmática de fé no sobrenatural do que essa? É o conhecido “duplo padrão” dos ateístas: "a crença no anticientífico dos outros é burrice, a nossa é erudição."
Mas então porque gente como Craig Venter e Richard Dawkins (só para citar dois dos que buscam os holofotes com mais paixão e interesse), resistem tanto à “hipótese” do planejamento divino da vida? Porque essa militância feroz contra qualquer menção da palavra “criacionismo”? Defesa da razão e da ciência? Não. Defesa de quê então?
Se considerarmos que a dimensão espiritual sempre esteve presente na humanidade, é razoável concluir que ela faz parte da natureza humana, e como tal não pode ser suprimida arbitrariamente, mas somente substituída por outros valores. A História mostra tentativas autoritárias de substituir a religiosidade; todas sem sucesso, sendo a Revolução Francesa e o social/comunismo apenas os exemplos mais notáveis e ilustrativos de regimes ateus que não deram certo...
Estamos no momento histórico em que se tenta substituir a religiosidade pelo “racionalismo”. Mas o arremedo é evidente: os cientistas são como os novos “sacerdotes” portadores da verdade e a eles parece absurdo que não seja assim. Afinal só eles são "racionais", certo? Abdicar da vaidade de serem os “senhores da verdade”? A arrogância não deixaria.
Porém é outra a razão determinante para que existam os Apologistas do Acaso Químico: as consequencias da existência de Deus. Isso implicaria num necessário e inconveniente posicionamento, numa escolha consciente que resultaria (ou não) numa mudança de valores, de paradigmas, de objetivos e na auto-imagem. Uma questão incoveniente para a maioria das pessoas e ainda mais para alguns cientistas, que preferem atribuir a vida espiritual à ingênuos e fazer de conta que não existe nenhuma escolha a ser feita...
Quem ainda vai dizer que sua descrença se escora na razão?
“..havendo eu sido cego, agora vejo” (João 9:25)
[FR.Luz]