> O Rei Relativista

Uma alegoria sobre o afrouxamento da convicção do que é verdadeiro e do que é falso, e as consequências reais desta confusão oportunista;

Era uma vez um soberano de um reino muito distante, que ficou impressionado pelo ensino dos intitulados Místicos e aderiu à “Filosofia dos Mil Caminhos”. Tal ensino pregava que não há uma verdade absoluta, mas que muitos caminhos levam a muitas verdades, que no final das contas, é uma só verdade.

Diziam os Místicos que “o caminho se subdivide em mil outros caminhos, para que todos levem a mesma e única verdade”.

Estes ensinamentos impressionaram o rei, lhe era atraente a idéia de que, por exemplo, não há erro nem engano, pois ao final da jornada, mais cedo ou mais tarde, todos chegariam ao mesmo destino: a verdade – que não seria absoluta, mas relativa. Todos estariam certos e todos estariam errados, pois não há caminho certo ou caminho errado. Há caminhos.

Ainda extasiado pela sublime doutrina relativista, o rei foi procurado por dois súditos para que resolvesse um sério conflito entre eles, pois naquele reino, o soberano também exercia a justiça.

O primeiro súdito relatou longamente a sua versão dos fatos do conflito: explicou o porque achava que a razão e por conseqüência o direito, lhe pertenciam, mostrando documentos e objetos.

O Rei ouviu atentamente. Pensou, meditou e disse: você tem razão !

O segundo súdito pediu a palavra e explicou em detalhes a sua versão do problema, trouxe testemunhas e livros que diziam que sua situação era amparada pela justiça e que, em razão disso o direito em jogo lhe pertencia.

O Rei ouviu tudo pacientemente, novamente analisou os argumentos e após meditar disse ao segundo súdito: você tem razão !

Ouve então uma inquietação na Corte, todos murmuravam confusos.
O Ministro-Conselheiro do rei, que a tudo presenciou, cochichou no ouvido real que não seria possível que o dois súditos tivessem razão ao mesmo tempo, pois suas versões se contradiziam e versavam sobre uma mesma situação de fato.

O Rei ouviu o Conselheiro e olhando-o nos olhos disse: você também tem razão !

A partir daí o tumulto tomou conta do Palácio e depois de todo o reino. Ao final do dia o reino estava esfacelado e em guerra e o rei relativista morto.

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[F.R. Luz - Livremente inspirado no texto de M. Scliar, P.Finzi e E.Toker, em Humor Judaico, Editora Shalom ]

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