> Um futuro sem cinzentismo espiritual

Estamos a cada dia nos aproximando da era dos absolutos espirituais, quando haverá nítida e assumida divisão entre cristãos e não cristãos. Embora biblicamente esta divisão não admita uma “zona cinzenta” de indefinição (ou se é Filho de Deus renascido em Jesus Cristo, ou não) – ainda há aqueles que se entendem como cristãos e até mantém uma descorada identidade com os princípios cristãos, mas que são apenas e tão somente aparência. Nada mais que isso:cristãos de faz-de-conta, cujas convicções não resistem à mais suave brisa.

Caminhamos para uma grande diminuição desta zona cinzenta onde bilhões hoje se abrigam, sendo cristãos apenas para fins estatísticos, mas sem nenhuma identificação com o que o Evangelho prega como Verdade de Cristo.

A doutrina cristã será convictamente assumida por uns e conscientemente renegada por muitos outros, tal qual nos tempos iniciais da Igreja. Atualmente as posições abertas são minoria – de um lado os poucos que se entendem como renascidos em Cristo e que por isso têm suas vidas direcionadas pelo Espírito Santo numa comunhão consciente no caminho da santidade; no outro extremo, uma (ainda) minoria composta daqueles que explicitamente rejeitam a doutrina cristã.

No meio deste espectro, entre o claro e o escuro, entre a luz e as trevas, há uma massa de pessoas que se dizem cristãs, mas não conhecem (e nem querem conhecer, satisfeitas em sua palidez espiritual) a doutrina do Evangelho, tampouco se envolver com as consequencias de acolher a Salvação em Cristo.

Para estes, Jesus é uma estátua guardada num canto da casa, que -- quando muito -- aos domingos deve ser lembrada. São os cinzentos espirituais, que pensam que estão na luz, mas estão nas mais profundas trevas.

No catolicismo romano e no anglicanismo acontecem episódios ilustrativos: basta seus líderes fincarem pé nas doutrinas e crenças tradicionais, para que surjam grupos de insurgentes contra tais doutrinas, mas que insistem em permanecer nominalmente nas religiões oficiais, vociferando por “mudanças” no catecismo. Como exemplo se pode citar polêmicas na Itália e Inglaterra sobre aborto, eutanásia, casamento, divórcio e homossexualismo; ou mesmo as recentes controvérsias no anglicanismo sobre a ordenação de homossexuais.

Comparações análogas poderiam ser feitas nos demais países ditos católicos ou “protestantes”, onde a maioria também é só nominalmente cristã, mas seus costumes e práticas são de descrentes.

O cristão nominal, cinzento, reluta tanto em dizer não ao mundo quanto em dizer não a Cristo, então ele clama por “mudanças” no cristianismo. Ele quer um cristianismo sob medida para o que ele pensa.

Se o cristianismo fundado pelo próprio Jesus Cristo e espalhado pelos apóstolos insiste em contradizer sua concepção de “certo” e “errado”, que sejam ignoradas as contradições, mantido o ritual, respeitada a liturgia e ponto final. Conserva-se a forma e sacrifica-se o conteúdo. A verdade morre assim.

O cinzento só quer mesmo ser reconhecido como cristão por conveniência social, mas não quer sê-lo “em espírito e em verdade”. Não há convicção nem vontade para isso.

Mas o cinza tende a definhar quando se por a fé à prova. Tome-se como exemplo, novamente, a velha Itália, berço do catolicismo romano: Nominalmente, 96% dos italianos se declaram católicos, mas estima-se que no máximo 10% destes participam de algum tipo de reunião religiosa.

Nos países de maioria “protestante”, como Inglaterra, Estados Unidos e Islândia, a freqüência a cultos é baixíssima se considerados os percentuais estatísticos.

Que cristianismo é esse ? É um “cristianismo” envergonhado, falso, fingido, que não resiste a nada. Na mesma medida em que uma sociedade avança cultural e economicamente, ela também se afasta das crenças fundadas não em convicção, mas em conveniência e tradição vazia (diz-se que com o advento da aspirina, muitos deixaram de crer em Deus).

Na velocidade alucinante que a sociedade absorve qualquer comportamento, a tendência é que se quebre a inibição cultural e aqueles que nunca foram cristãos assumirão finalmente, deixando de ser o que na realidade nunca foram: crentes em Jesus Cristo.

Os cristãos "de aparência" cansarão de fingimentos e assumirão sua descrença. 

Com o passar dos anos, o cenário se inverterá radicalmente: se antes era socialmente recomendável dizer-se cristão, no futuro próximo será exatamente o inverso. Os cristãos serão tachados de obscuros, supersticiosos, involuídos, inimigos da ciência e atravancadores da plena liberdade do homem. Basta navegar uma hora na internet que se poderá ver o quanto mais pessoas cinzentas assumem que não estão no lado da Luz e dedicam-se à maldizer os que estão do lado de Cristo.

Dizer-se “ateu”, “agnóstico” ou pagão de qualquer estirpe será um carimbo no passaporte para esta nova e terrível sociedade que desponta no horizonte. Uma sociedade sem valores absolutos, uma sociedade em que tudo é relativo, em que tudo é tolerável, menos a negação de que tudo é tolerável.

Muitas portas serão fechadas aos que viverem em espírito e em verdade a fé em Jesus Cristo.

Se aproxima o tempo da provação.

[F.R. Luz]

Um comentário:

  1. Solano Portela25/05/2010, 11:15

    1 comentários: Solano Portela disse...
    Caro Fabrício:

    Ótimos textos! Parabéns pelo Blog. O texto introdutório, sobre o "z", fez pulsar meu coração de matemático, que divide o espaço com minha elucubrações teológicas (vide: http://tempora-mores.blogspot.com/2006/02/peixe-fora-dgua-ou-um-corpo-estranho.html).

    Abs

    Solano
    12 de maio de 2010 09:00

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