> "Preconceito" é sempre um palavrão ?

A palavra não é sinônimo obrigatório de “segregação” e “intolerância” e pode significar também nossa memória de experiências agindo a nosso favor. O “Preconceito” pode ser também uma ferramenta.

Em nossa era pós-moderna (1) é de bom tom ser “contra o preconceito”, seja ele de filosofia, ideologia, sexo, cor, “orientação” sexual ou mesmo o “preconceito” em seu próprio significado. Politicamente correto e aceitável, nos meios tidos como intelectualmente avançados e de vanguarda, é que não se deve ter “preconceito” algum. Tudo deve ser aceito, menos a idéia de que nem tudo deve ser aceito...

Toda vertente, toda escolha, toda tendência, toda aparência, toda idéia, todo movimento, toda ação deve ser “respeitada”, ou melhor: “considerada”, “reconhecida como válida”, pior: "absorvida".

Ai de quem viola tal mandamento. Será tido como um retrógrado, um reacionário, um troglodita. Um “preconceituoso” enfim. Tem-se a tolerância irrestrita como regra, como corolário da diversidade cultural. Mas afinal, o que é um preconceito ?

No dicionário a palavra pode significar desde um “Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos, uma idéia preconcebida”, até um “julgamento precipitado ou intolerância”.

Norberto Bobbio dizia, sob a ótica sociológico/política, que o tal “preconceito” seria uma opinião errônea, aceita passivamente, sem passar pelo crivo da razão. Algo com bases irracionais que daria origem à generalizações superficiais e estereótipos como “todo alemão é prepotente”.

Mas será que as bases de todo “preconceito” (no sentido de idéia pré-concebida), são mesmo irracionais?

Ninguém em comunhão com princípios éticos basilares pode argumentar em favor da opressão motivada pela etnia, cor da pele, sexo, condição social ou religião. Não se está aqui defendendo o “preconceito” como sinônimo de “intolerância”, traduzida como segregação, violência e opressão.

Mas o fato é de que até o preconceito como “idéia preconcebida” é alvo de repúdio dos patrulheiros da civilidade, afinal, se prega que “tudo é válido, tudo é verdadeiro, tudo são pontos de vista diferentes de uma mesma realidade” e insurgir-se contra isso é imperdoável. Será?

Ter uma opinião preconcebida sobre algo sempre foi um mecanismo racional (sim) de defesa da humanidade, pois tudo o que faz parte de nossas vidas é passível de convalidação íntima, explícita ou velada.

Imagino um homem primitivo vendo ao longe a aproximação de guerreiros de uma tribo rival e, num salto de milhares de anos, despojar-se de seu “preconceito”, abstraindo que não se devia fazer um pré-julgamento do grupo que se aproximava, quem sabe eles poderiam apenas estar tentando um diálogo amistoso, ou mesmo passeando...

O preconceito em seu bom sentido nada mais é do que o fruto da experiência acumulada, uma voz que diz: cuidado! Uma exteriorização da percepção histórica individual ou coletiva sobre determinado objeto. Um “banco de dados” que o cérebro aciona perante determinada situação.

Sem o “bom” preconceito, estaríamos sempre condenados a redescobrir a roda. Tenho preconceitos sim. Todos temos. Eu acho, por exemplo, que um desconhecido parado numa esquina, sem aparente motivo e que observa atento o movimento dos transeuntes, é um potencial assaltante. Acho que um automóvel com placa de uma cidade litorânea tem sim mais probabilidade de estar com a lataria corroída, apesar da boa aparência. Acho também que um médico brasileiro formado numa Universidade da Bolívia tem menor preparo que um profissional diplomado numa conceituada instituição nacional. Onde está a “irracionalidade” de Bobbio nestes exemplos ? É preconceito ? Sim, mas e daí ?

Mas o preconceito “bom” é uma ferramenta, não um fim. Assim, em condições normais, não vou chamar a polícia para interpelar o homem da esquina sem que ele faça algo que reforce minhas suspeitas, afinal ele pode estar esperando a namorada que trabalha na casa em frente. Mas prestarei muita atenção.

O “bom” preconceito, tido como uma memória de cautela, também é dinâmico: Se um dia as pessoas que usavam tatuagens eram vistas como prováveis marginais egressos de penitenciárias ou marinheiros desajustados, isso não prevalece atualmente, dias em que qualquer adolescente de mau gosto faz uma tatuagem na esquina.

Porém o mais grave é ser conivente com produtos mentais que agridem a ordem natural: idéias, ideologias, filosofias... Aliás, também tenho preconceito contra idéias que agridem minhas convicções mais sagradas.

Não admito, por exemplo, considerar os argumentos dos que pregam o suicídio como “uma escolha”, dos "filósofos" da pedofilia que pregam a sexualidade infantil; dos anticristãos de todos os naipes; dos segregacionistas raciais, dos devotos do ódio, dos arautos do desvirtuamento de valores morais, dentre outros.

Absorver como válida uma ideologia, uma filosofia ou visão teológico/religiosa “até que se prove o contrário” pode ser muito prático para quem tem frouxos seus fundamentos morais, para quem não tenha lá muita certeza do que crê, para quem é conveniente achar que tudo é verdadeiro e falso ao mesmo tempo (assim se pode escolher o que será aceito como certo e errado).

Sim devemos todos ser tolerantes, desde que o ente tolerado não agrida nossos valores mais caros ao ponto sermos nós e nossos valores ou eles os que permanecerão em pé.

Não se trata de repúdio irracional, mas de resistência ativa e racional contra um oponente que assim, despretensiosa e suavemente, quer destruir nossos alicerces morais e nos empurrar goela abaixo o seu ideário.

Não se pode, assim, confundir de modo simplório a intolerância irracional com a realidade de que um acervo de experiências pode sim adiantar (por um processo lógico-indutivo) o provável resultado de um evento iminente, alertando os mecanismo internos de reação do indivíduo.

Dessa maneira, resistir ao discurso raso da aceitação inconteste é sinal de convicção, personalidade, brio e fé.
Qualquer outra atitude não passa da pior qualidade de relativismo: o relativismo moral.

[F. R. Luz]
---------------------

Link para aprofundamento:

(1) Definindo o Pós-Modernismo.

13 comentários:

  1. Marcio Scheibel25/05/2010, 12:14

    "qualquer adolescente de mau gosto faz uma tatuagem na esquina" - poxa, você acabou de dar outro excelente exemplo de preconceito.

    "também tenho preconceito contra idéias que agridem minhas convicções mais sagradas" Eu também! Quando alguém fala que nem Papai Noel nem Coelhinho da Páscoa existem pulo direto no pescoço!!!! Falasério meu, se enxerga!

    Anticristão seriam aqueles que acham que Jesus era um X-Men, um alienígena ou simplesmente o mais provável: mais um dos milhares de profetas malucos e bizarros q pipocavam na época? E q só é lembrado hoje pq os Romanos (que dominavam o "mundo") o adotaram pra acalmar e unificar a população? E depois da igreja ficar forte ela derrubou roma?
    Um pouco de verdade abala suas "convicções sagradas" (vulgo lavagem cerebral irreversível) ?

    Engraçado que o ódio é vasto nos ditos "religiosos", principalmente se ele encontra alguem q percebe que seus contos de fadas infantis nao faz sentido nenhum. Você sabia que mundialmente falando, 99% das prisões são cheias de religiosos? Geralmente "cristãos"? E que não se tem estatísticas de "ateus" criminosos?
    E nos países com religiosidade quase 100% a miséria e a fome são recordistas, como vários países da África e Oriente Médio, e os melhores e mais seguros países do mundo, com criminalidade quase zero são fortemente ateus?

    No meu ponto de vista, "alicerces morais" e "bom senso" são quase o antônimo de "religiosidade".

    ResponderExcluir
  2. Caro Marcio:
    1) Não odeio ninguém, nem os que me agridem;
    2) Nenhuma verdade abala minhas convicções, e acho de uma tremenda arrogãncia pensar que todos os crentes são meros iludidos, vítimas de uma "lavagem cerebral". Não seria meio simplório achar que toda a questão da espiritualidade, que caminha incólume na História da humanidade , seria fruto de uma ilusão conveniente ?

    3) Sobre os presídios cheios, vc entende que existem cristãos nominais e reais ? Se tiver paciência leia o artigo sobre cinzentismo espiritual ou crença nominal;

    4) Sobre a pobreza e a fé, acho que isso são fatores independentes, MAS, para argumentar no seu argumento: será que os EUA não contam ?

    5) Que eu saiba, os países da África, em sua maioria - e os do Oriente Médio, são predominatemente muçulmanos...Aliás, a história só registra como regimes institucionalmente ateus, o comunismo e o regime revolucionário francês. Ambos chafurdaram..

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  3. 1) Eu odeio a ignorância humana.
    2) Você está sob o efeito da lavagem, cego como uma toupeira. É óbvio que se todos estão sob o mesmo efeito, e são ensinados assim desde q nascem, é a explicação óbvia pra essa caminhada TRISTE e incólume que vc cita da humanidade burra.
    A humanidade gosta tanto da conveniência quanto cultiva sua arrogância.
    3) Já extrapolei minha paciência no seu blog, mas já li por cima este artigo bizarro sim, antes desses comentários.
    4) Não faço idéia do q vc quer insinuar sobre os USA, e tenho até medo de perguntar.
    5) Enquanto houver a religião, existirá a ignorância e arrogância humanas. E como isso é generalizado, estamos fadados a perecer nessa ignorância. Provavelmente vcs merecem, mas ainda acho q EU não merecia estar cecado de ignorantes.

    Que o grande Yoda nos proteja.

    Que se faça a vontade de Eywa.

    O Keanu Reeves não devia ter nos dado outra chance, deveria ter ficado do lado do Planeta Terra.

    Ilusões.
    Desilusões...

    "Deus é um Delírio".... recente.
    Deuses e demônios são delírios bem mais antigos.

    ResponderExcluir
  4. meus outros posts de hoje deram erro. Seu blog é o unico q conheço q dá erro. Seu deus não está do seu lado....

    ResponderExcluir
  5. Caro Marcio:

    1. Também lamento a ignorância espiritual, que é a motivadora de todas as misérias;
    2. Cegos e mortos estão todos aqueles que pensam que esta vida é um acaso químico, talvez para sua própria conveniência;
    3. "bizarro" também pode significar "gentil", "elegante". Se foi essa a intenção, obrigado. Mas acho que disse no sentido de "extravagante". A idéia é essa. Obrigado.
    4. Sobre os EUA, nãoprecisa ficar com medo de perguntar não. É que vc insinuou que países da Africa e Oriente são miseráveis porque são religiosos. Lembrei que oos EUA são a maior potência do planeta e são um país com um povo nominalmente religioso. Não que os EUA sejam exemplo de cristianismo, mas sua teoria...Já era.
    5. Atribuir os problemas humanos à "religião", é de um simplismo abissal. O ateísmo não oferece respostas. Apenas condena as respostas que existem. O ateísmo se baseia numa negação conveniente. Sempre se adere a um conjunto de crenças. O ateísmo também. Dawkins é um inconsistente que baseia suas premissas em outras premissas inconsistentes. Mas está vendendo livros adoidado para gente que QUER e PRECISA não crer.

    ResponderExcluir
  6. Sobre a questão de "erros", o número de caracteres é limitado para cada comentário. Se vc cola um texto longo, dá mensagem de erro. Neste caso, o Google é que não está do nosso lado.

    Obrigado pela visita e lembre-se que a Verdade sempre estará te esperando para um encontro.

    ResponderExcluir
  7. 2. Arrogancia sem comentarios. É impossível entender que lógica vc usa em seu cérebro para achar que é conveniente não acreditar em nada depois da morte. Hummm. Talvez se os ateus forem pecadores, eles preferem achar que não existe inferno é isso? Vc acredita que todos os ateus são más pessoas, pecadoras, e por isso não querem acreditar na biblia? Que tipo de pecado?

    4. Estados Unidos progrediu por uma outra contribuição fanática como a religião: o patriotismo. Uma forma de diferenciar alguns seres humanos dos outros, para consequentemente menosprezá-los. E destrui-los facilmente e sem piedade em guerras.

    5. Dawkins prega um simplismo tão grande que vc nunca entenderia. É a lógica simples e pura. Ele pega as religiões globais. Como ele diria, ele crê em apenas um deus a menos do que vc.

    ResponderExcluir
  8. Marcio.
    A negação da vida espiritual nã se baseia na razão, mas em um conjunto de crenças tão "cientificamente improváveis" quanto à crença num Criador.Veja a postagem sobre Craig Venter e a deusa razão.
    Não acho que só os ateus sejam pecadores. Todos são responsáveis por quebrar a harmonia da criação, ou seja: TODOS são pecadores. Pecar não é só roubar e matar.
    Dawkins, um dos maiores vendedores de livros sobre a Apologia do Acaso, desta vez tem razão, pois eu creio no Único Deus. Se ele não crê neste Deus...
    Só lembre que o tal "patriotismo" que vc condena é o responsável pela resistência à dominação autoritária. Se não fossem os patriotas,que morreram pelas "pátrias", talvez nem eu nem você tivéssemos liberdade para discutir o que estamos discutindo...

    ResponderExcluir
  9. Crente,
    A negação da vida espiritual não se baseia em nenhuma crença irreal. Ela se baseia no fato de elas TODAS terem sido inventadas por desocupados e ignorantes muito menos inteligentes do que eu, seres humanos primitivos que inventavam historias e adaptavam contos antigos. A historia da criança que se salvou do extermínio do ditador cruel q soube da profecia e mandou matar todas é mais batida do q filme do vandame. Moisés fugiu num barquinho e jesus num burrinho. Hummm... talvez o burrinho queira dar uma dica bem grande sobre a moral dessa parte da parábola.

    Releia a minha fabula do chocolate até entender de verdade. Preste atenção na parte que eu digo q o pesquisador pode estar totalmente errado.

    Open your mind.

    ResponderExcluir
  10. Marcio.
    Suas idéias não correspondem aos fatos.
    Conheça a Verdade e a Verdade te libertará.

    ResponderExcluir
  11. Uau. Acabou o "argumento". Agora gostei. Releia mais umas 10 vezes a parábola, quem sabe você cai na real e sai dessa ilusão.

    ResponderExcluir
  12. Se vc chama de "argumentos" aquele monte de palavras do seu comentário anterior, realmente eu não os tenho à semelhança.
    Obrigado.

    "Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo! " (João 9:25)

    ResponderExcluir
  13. Esse Marcio tem um ódio de si proprio que é de dar dó, afinal, ele não diz que odeia a ignorancia. Alem disso é masoquista, porque insiste em ler um blog com o qual não concorda. Eta odio de si proprio mesmo. O que ele chama de "argumentos" não têm qualquer lógica estruturada . São agressões baratas de alguém perdido em seus proprios delírios aos quais ele tenta dar legitimidade. Não vale a pena nem discutir. Com loucos não se discute, concorda-se pra eles não terem um surto ainda pior.A unica coisa que ele sabe fazer é agredir e desrespeitar a opinião alheia. Um conselho: procure blogs que lhe deixem espumando de raiva, pode ocasionar um infarto.

    ResponderExcluir